"Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente."
Oswald de Andrade em Manifesto Antropófago, 1928.

"Antropofagia é a imaginação teórica de apropriação da Autoridade. Num mundo assimétrico em relação ao exercício de poder, é necessária a imaginação que permita a apropriação criativa do outro, sem exclusão ou imposição sobre o mesmo."
João Cézar de Castro Rocha.

Série B foi um momento de partilha no qual o artista plástico e músico João Ferro Martins apresentou uma seleção de temas de filmes de terror das décadas de 70 e 80. Estas músicas foram recolhidas de um mundo de referências que recortaram a sua infância. Num discorrer entre; a forma de operar de um zombie e a formalidade das composições sonoras deste tipo de cinema; passeamos pela psicologia e as múltiplas estratégias, que vão desde a sonoplastia, os temas atmosféricos e o leitmotiv. Nos intervalos, o artista J.Ferro apresenta exemplos da sua produção sonora que evidenciam a influência inequívoca que este universo estético tem na sua prática pessoal.

No texto “Engodo”, Ian Svenonious desenvolve uma dicotomia entre os sons que reconhecemos e os sons que avançam sobre territórios desconhecidos - o engodo e a vanguarda. O punk, na sua missão iconoclasta, vive constantemente neste movimento pendular, resgatando memórias da cultura popular para as destruir de seguida, porque, de maneira informal, é profundamente consciente de que para criar a melhor poesia é preciso destruir os pressupostos poéticos de uma determinada Situação. Neste nicho#5, escutamos alguns momentos em que o punk se dedicou, voluntária ou involuntariamente, à melancolia em vez da distopia, à narração em vez da maldição, à canção em vez da destruição sónica. Com a ajuda de The Kinks, The Raincoats, Captain Sensible, Poison Girls, Sin Dios ou René Binamé, talvez percebamos que essa oposição (tradição-vanguarda) não é assim tão linear.

Candy Diaz apresentou uma seleção de canções inéditas da variedade cigana, atravessando Espanha até Portugal, explorando uma viagem musical do tradicional para o ‘pop’, dos bairros para as discotecas, com foco em artistas-mulheres.
Entusiasta voraz, com uma vasta bagagem de discos e histórias que se espraiam por diversas eras e latitudes, Candy Diaz, nascida Ana Farinha e também Baterista em Vaiapraia e Hidden Horse, tem revelado em incontáveis DJ sets uma visão panorâmica que se dissemina por entre várias correntes do Psicadelismo, obscuridades e clássicos dos Girl Groups. Aposta também em reportórios riquíssimos de Música Cigana, investidas pelo Post-Punk, Dub e digressões por entre o Funk, a Soul ou o Jazz num mapeamento que descobre pérolas nos mais distintos recantos deste e de outros mundos.

TESOURELHA teve 4 momentos de escuta referentes aos 4 elementos da natureza onde se apresentarão trechos musicais seleccionados pelo colectivo Von Calhau!.

Von Calhau! nasceu em 2006 no Porto. É a designação do corpo de trabalho desenvolvido em bicomunhão prática por Marta Ângela e João Artur. Tem sido apresentado nas formas reconhecíveis de artes visuais, música, texto, performance, filme, entre outras, em espaços como Culturgest, Serralves, Maat, Cafe Oto, Sesc São Paulo, CCA Glasgow, entre outros.

Desmarques (dUASsEMIcOLCHEIASiNVERTIDAS + Associação Terapêutica do Ruído) propôs uma investigação sobre o Rock Instrumental, partindo das suas primeiras experiências fonéticas dos Estados-Unidos através das inovações dos efeitos de reverberação e dos amplificadores, seguiu pelo Surf Rock e pelas suas influências em outras cenas musicais e localidades geográficas como em Moçambique e Angola. Informado pelo post-rock, e com 20 anos de prática enquanto músico, Desmarques referiu-se à ruptura criada no rock aquando a aparição dos cantores em meados dos anos 60 que iniciou a cena mainstream, fazendo do rock instrumental, onde a guitarra era central, um nicho a partir dos anos 70-80.

PiWhy (GVA) aka Pierre-Antoine Possa, veio ao comıtė passar a tocha do NICHO; um evento estabelecido originalmente como La Niche, em Genebra, onde decorreu de 2019 até 2023. Apresentou o conceito do projecto e as formas originais desses encontros particulares, numa viagem épica com origem no jazz, até ao punk, passando pela história do Fanzine, desdobrando as relações críticas entre o mainstream e a apropriação cultural na música.